sábado, 21 de outubro de 2017

Eu vi tudo ...e tudo


Estes dois cães, quando se encontram na aldeia, são inseparáveis em quase tudo. Normalmente, o cão citadino segue, dentro das suas possibilidades atléticas, o cão campestre. E não há muitos obstáculos que demova o pequenote citadino e o faça desistir. É demasiado orgulhoso para se dar por incapaz. Mas há coisas que não podem fazer ao mesmo tempo e aí a vez é naturalmente cedida ao mais...apetrechado. E realmente o caso que presenciei foi mesmo caso de apetrechamento adequado. 
Logo a seguir ao almoço costumo passear os dois cães por caminhos que não darão, em princípio, possibilidade a dar de caras com outros  cães da aldeia e arredores. Só que desta vez, a meio do nosso percurso, ouvimos e vimos a umas boas duas centenas de metros uma cadela presa por um cadeado a ladrar à entrada de um barracão,  situado numa propriedade vedada por muros mais ou menos altos, na periferia da aldeia. Quando dei por ela, já os dois galfarros se tinham metido pelos campos adentro e subindo e descendo muros, lá chegaram ao pé da cadela. Durante uns bons minutos vi as tentativas falhadas dos cães para montar a cadela, só que tantas vezes foi o cântaro à fonte que se partiu e o Nodi foi o feliz contemplado com uma "rapidinha" pós almoço. Do Blakkk só via o seu rabo dar a dar com uma velocidade louca e tentando também saltar para o meio da contenda. Como o caso demorava a ter fim, resolvi triste e sozinho, voltar para casa e ver o resto do telejornal. Passados uns bons minutos chegou o Nodi, ofegante, língua de fora, todo feliz da vida por se ter candidatado, mais uma vez, a ser pai de Nodinhos. O Blakkk, demorou um pouco mais a chegar e não sei se também molhou o bico ou não. O que é certo é que o Nodi nesse mesmo dia, passou a tarde a dormir e, mal jantou, pôs-se na alheta.  Nunca mais o vi. De manhã, fiz as malas e vim embora  para a cidade sem saber mais dele. Provavelmente, passou a noite a cortejar aquela cadela. Vida de cão é dura porque, cão que se prese, não tem horas certas para despachar os trabalhinhos que lhe apareçam pela frente quer seja dia ou noite, faça frio ou calor. O seu instinto animal sobrepôs-se à nossa relação de grande amizade. E ainda bem porque as nossas despedidas são sempre de ficar com o coração apertado e com os olhos embaciados. Custa-me muito ver aquele olhar meigo ficar a olhar para o carro que parte, uma vez mais...para um mundo seu  desconhecido! PORQUÊ, pensará ele? 

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